Mandioca, abacaxi, café, capim e eucalipto estão
substituindo a Mata Atlântica em Itaipé, no Vale do Mucuri. Crime ambiental
também cometido em outros municípios da região, responsável por 15% do desmate
irregular em Minas. Especialistas afirmam que faltam políticas sociais e
efetivo para a fiscalização.
Durante a Operação Muriqui, realizada em conjunto
pelo Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema) e polícias
Civil e Militar, semana passada, foram embargados 350 hectares de áreas onde a
Mata Atlântica foi suprimida. Em um dos casos, 2,86 hectares viraram lavouras
de mandioca e abacaxi.
“Sei que é errado, mas preciso trabalhar”, disse
Marcos Pereira dos Santos, de 35 anos, gerente de uma das áreas. Baseado em
casos como esse, o pesquisador Alexandre Sylvio, professor na Universidade
Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), afirma que a solução para
o desmate no Estado só acabará com programas sociais.
“É uma região muito pobre. É preciso criar
alternativas de sobrevivência para os pequenos produtores”, diz. Ele considera
as leis ambientais atuais rígidas e restritivas, como também educativas.
“Apesar dos altos registros de devastação, a fiscalização tem sido efetiva por
aqui”. O pesquisador observa que o desmatamento e a exploração da madeira
nativa nos vales do Mucuri e Jequitinhonha reduziram em mais de 85% nos últimos
dez anos, conforme o IBGE.
Para a superintendente executiva da Associação
Mineira de Defesa do Ambiente (AMDA), Dalce Ricas, é preciso gerar renda para
os pequenos produtores e combater a cultura enraizada de desmate. “Fiscalização
também é fundamental. Mas ela não tem sido eficaz por falta de contingente e
infraestrutura”, denuncia.
Levantamento feito pela AMDA apontou um policial
para cada município da região. Dalce diz que, atuando sozinho, o policial
sente-se intimidado diante do poder de fogo de grandes proprietários que
exploram os pequenos, em especial na produção do carvão vegetal.
Em abril, a entidade entregou à Secretaria de
Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) propostas de
ações, como melhor distribuição geográfica dos policiais. Segundo a pasta, 68
servidores e 1.200 militares são responsáveis pela fiscalização.
O diretor de Fiscalização dos Recursos Florestais e
Biodiversidade da Semad, Bruno Janducci, diz que os desafios para coibir a
prática estão associados às dificuldades para encontrar as áreas de desmate. A
detecção é feita por imagens de satélite, que na maior parte do ano não
consegue “enxergar” a superfície por causa de nuvens. “A Lei Federal
11.428/2006 é muito boa, proíbe o desmatamento. Mas os proprietários suprimem
sem autorização do órgão”.
Janducci ressalta que a Semad realiza operações e
toma as medidas administrativas cabíveis em caso de constatação de
irregularidade. Já as polícias cuidam das medidas criminais. Porém, a educação
ambiental também é fundamental.
(Hoje em Dia)
Nenhum comentário:
Postar um comentário